Num dia soalheiro de Verão, eu e quatro amigues, todos de lugares diferentes (Sintra, Algarve, Itália, Hungria e Suécia, característica comum das convivências na Ananda Valley), com vontade de descontrair, descobrir a beleza da grande montanha sempre presente no horizonte da Ananda Valley e mergulhar na paisagem natural da Serra da Estrela fomos até ao Covão D’Ametade de carro, sitío do qual já alguns de nós tínhamos ouvido falar pela sua enorme beleza, onde começámos a nossa caminhada. Sem nenhum destino em particular mas com curiosidade de explorar seguimos por um trilho até ao topo do maior pedaço de granito que conseguimos avistar.
Inicialmente passámos pelo bosque de Vidoeiros cheios de vida, famosos modelos que posam com os seus troncos brancos no leito da nascente do Zêzere para as imensas fotos que se tiram neste local. O cristalino Zêzere, que rasga o vale por onde caminhámos, pintava de um luxuoso verde por onde passava e a briza fresca tão característica da proximidade do rio e da altitude permite a toda a flora permanecer verdejante pelo verão interior português.
Seguimos caminho fazendo o nosso trilho à medida que subíamos, entre pausas para água e passos aventurados trocámos palavras sobre temas profundamente filosóficos, desde o significado da morte e da vida, aos ciclos naturais, enquanto a paisagem envolvente, cada vez mais amarela, nos enchia os olhos..
Chegando ao topo, por nós assim definido, deparámo-nos com gigantes de granito que tentavam alcançar o céu e que nos deixaram um sentimento de pequenez perante a sua forma monumental e esmagadora. Observando por cima do caminho, até aí percorrido, um horizonte a perder de vista por baixo de um céu plenamente azul e aberto sentámo-nos a contemplar e a comer o nosso lanche, com o cuidado de recolher todo o lixo, intrusões humanas que frequentemente corrompem a paisagem.
Após o delicioso lanche e inspirados por toda a cena bucólica, cada qual preparade com a sua arte, expressámos de diferentes maneiras a nossa essência. Eu com as aquarelas, o Guilherme na sua flauta de bambu, a Serena com os seus lápis de colorir mandalas e flores, a Boglarka com o seu livro e a Isabella com o seu pincel.
No que era das minhas primeiras tentativas a pintar, inspirado numa imagem do Guilherme a tocar flauta para o gigante de granito e com a minha máxima destreza e concentração assim o pintei. Em baixo segue a gravura em papel e a foto:


Depois da sessão de expressão artística regressámos ao cume do caminho, perdendo-nos um pouco entre arbustos altos e granitos salientes, chegámos e deparámo-nos com um lago cristalino e puro que nos convidou com a sua frescura atrativa a mergulhar. Com o seu toque gelado e perfurador que não nos permitiu ficar mais que uns breves instantes a desfrutar da água, saímos para os acolhedores raios de sol que nos secaram e, em conjunto com o Zêzere, nos recarregaram de vitalidade para voltarmos para casa depois de uma jornada tão deslumbrante.
Em suma o Covão D’Ametade é uma reserva natural resguardada e exuberante que me deixou inspirado com a sua beleza e me encheu a alma com uma gama de sensações enriquecedoras que pude sentir ao desfrutar da sua paisagem caracterizada pela pureza da nascente do Zêzere, pelos Vidoeiros brancos e verdejantes, e pelos monumentais gigantes de granito. Este pedaço de natureza encontrado na Serra da Estrela está também à espera da tua visita. Não te esqueças de levar água e recolher o lixo para que os próximos possam desfrutar tanto quanto tu.
Escrito por João Domingos