Estruturas de Retenção de Água

Devido às alterações climáticas que cada vez mais se fazem sentir através dos eventos de tempo extremo, como, por exemplo, ondas de calor, elevada precipitação num curto espaço de tempo, ventos extremos, erosão dos solos, é necessário adaptar os terrenos às novas condições meteorológicas. A nossa região da Cova da Beira também é fortemente afetada por tais alterações. Visto que a região apresenta um relevo com as inclinações acentuadas e possui um solo com pouca impermeabilidade pelo que, sempre que existe precipitação elevada, a água é encaminhada de forma direta para os rios a uma grande velocidade contribuindo para o aumento abrupto do caudal destes e consequentes cheias.

Os dados estatísticos dizem-nos que os valores de precipitação nessa região são em média de 1082 mm por ano [3]. No entanto verifica-se a variação sazonal na probabilidade e quantidade de precipitação mensal. Como se pode ver na Figura 1-a, o período em que a probabilidade diária de precipitação encontra-se abaixo de 20%, mais vulgarmente conhecido por período seco, dura aproximadamente 4 meses, do fim do Maio ao fim do Setembro. Conforme a Figura 1-b, nesse mesmo período a precipitação média acumulada encontra-se significativamente abaixo de 50 mm por mês. 

a) Probabilidade diária de precipitação na Covilhã.
b) Precipitação média (linha contínua) acumulada durante o período contínuo de 31 dia ao redor do dia em questão. Os dados contidos entre o 25º e o 75º percentil estão representados com faixa a cinzento-escuro, enquanto os contidos entre o 10º e o 90º percentil com faixa a cinzento-claro. A linha fina pontilhada é a correspondente precipitação média de neve.

Figura 1: a) e b) retirados de ©WeatherSpark.com [2]. 

Por isso, de modo a mitigar as consequências de períodos de seca e de chuvas torrenciais, um dos primeiros desafios a considerar quando se começa a trabalhar no próprio terreno é a gestão da água, particularmente a preocupação de como promover a infiltração e a conservação de água? As técnicas de bacias e valas de infiltração, muito usada em permacultura, permite a retenção da água no solo e consequente preservação de nutrientes, permitindo a criação de espaços sustentáveis, produtivos e biodiversos, que por sua vez estimulam a prosperidade da fauna e flora autóctone [4].

As bacias de retenção (charcas) são estruturas que pretendem reter os caudais pluviais contribuindo para resolução de cheias e secas extremas e criando micro-habitats muito ricos (Figura 2). Por outro lado, as valas de infiltração (em inglês swales) são construídas ao longo das curvas de nível para acompanhar o desenho topográfico de um terreno, de modo a aumentar a retenção e infiltração de água no solo (Figura 3). Tanto as charcas como as valas de infiltração são ferramentas muito eficazes de gestão da água com recurso aos elementos naturais do local de relativamente baixo custo. A implementação das duas estruturas permite reduzir significativamente a velocidade do fluxo da água das chuvas à superfície o que por sua vez tem os seguintes benefícios [4]:

  • retenção da água no sistema, introduzindo-a no lençol freático;
  • redução da erosão do solo;
  • aumento do nível de nutrientes e o conteúdo da matéria orgânica na camada superior do solo, melhorando a sua fertilidade.   
  Figura 2: Bacias de retenção em construção. Retirado de [1].
 Figura 3: Esquema das valas de infiltração. Retirado de [5].

 No passado dia 17 de Setembro de 2021 tive o prazer de participar no workshop de construção das valas de infiltração organizado pela equipa do EcoAtivo em parceria com Ananda Valley. O lugar escolhido serviu perfeitamente para esse propósito: a parte de uma encosta rochosa com pouca vegetação que estava constantemente sujeita ao processo de erosão pluvial. As valas construídas tipicamente tiveram a forma de meia-lua e foram reforçadas com os restos da poda da quinta. Com o objetivo de tornar as valas ainda mais resistentes, no dia a seguir dentro das mesmas foram plantadas as árvores autóctones (carvalhos, sobreiros, etc).  A Figura 4 mostra a parte do resultado do nosso trabalho. 

Figura 4: Algumas das valas de infiltração (destacadas com elipses de cor de laranja) construídas no âmbito do workshop organizado pelo EcoAtivo.

Bibliografia:

  1. Retenção de água em ambientes semi-áridos com solos arenosos
  2. Clima e condições meteorológicas médias em Covilhã no ano todo
  3. Wikipedia. Clima da Covilhã
  4. Bacias e valas de retenção, melhoram a gestão da água e a proteção do solo no Parque Aventura e Trilho Ecológico da LIPOR
  5. Valas de infiltracao em curvas de nível ou Swales

Escrito por Dmytro Ostapchuk

Dmytro estuda Engenharia Computacional na Universidade de Aveiro, mas é também um entusiasta da renegenaração ambiental.